Da Nossa Morte
Agora é tarde.
Ninguém responde às cartas que escrevi e
atirei ao mar, quando pensei que um dia serias como esse
marinheiro que num sonho antigo abençoava
o filho e depois partia nas asas do albatroz.
Agora é tarde.
Ninguém responde à sombria música dos meus
punhos golpeando a cadeira vazia, a mesa, as
folhas em branco onde uma única palavra se
aproxima,
manejando as suas armas -
três letras, três sinais de fogo.
Agora é tarde.
Ninguém cala os tempestuosos rios no fundo
dos meus olhos,
quando penso nos vermes,nas viscosidades
que te procuram através do cetim.
José Agostinho Baptista
«Agora e na Hora da Nossa Morte» (Assírio & Alvim 1998)
quarta-feira, 2 de agosto de 2006
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