segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Oh gente da minha terra...

O concelho do Fundão ocupa uma área de 701,61 quilómetros quadrados, onde se distribuem 31 freguesias. É o centro da afamada e ubérrima região denominada Cova da Beira, que é, no fundo, o vale do Zêzere entre as serras da Gardunha e da Estrela.
Aos acidentes de cómoda defesa natural que o dominam e à riqueza da terra, cortada de linhas de água, deve o Fundão, com muitas freguesias do seu alfoz, a fixação de povos que aqui estanciaram desde remotas eras. A toponímia – Orca, Castelejo, Prado das Antas, Quinta do Crasto, Calçada Velha, Corredoura – coincide com importantes vestígios pré-históricos, de transição e luso-romanos, a que se juntam sepulturas, lápides epigráficas, objectos vários e diversos achados, muito apreciáveis, da região, que fazem hoje parte do espólio do Museu Arqueológico do Fundão. Por volta de meados do século havia já um importante núcleo de objectos para o então planeado museu, devido, em grande parte, às incansáveis pesquisas efectuadas, nas cercanias da Gardunha e da Cova da Beira, pelo Dr. José Alves Monteiro.
Pelos primeiros tempos da nossa monarquia, uma grande parte do território que hoje constitui o concelho encontrava-se num estado de acentuado despovoamento. Os Templários exerceram acção decisiva no seu repovoamento e é nesse contexto que, logo em 1202, é concedido foral a Alpreada, terra que cinco anos depois passa a chamar-se Castelo Novo. Povoação muito antiga e pitoresca, Castelo Novo foi sede de um concelho extinto no século XIX. Outras povoações, em diferentes épocas, receberam também forais e constituíram--se em concelhos: Alpedrinha, Atalaia do Campo, Escarigo e Fundão. Em tanto quanto abona a segurança de fontes documentais, diversas povoações do concelho existiam já no reinado de D. Sancho I. Nas Inquirições de D. Dinis, de 1314, aparecem citados nove lugares fundanenses: Escarigo, Carantonha, Capinha, Levada, Fundão, Alcongosta, Aldeia Nova, Alcaide e Silvares. Na Inquirição de D. João I, de 1395, aparecem os lugares de Valverde, Pouca Farinha e Enxames e, para efeito da demarcação do reguengo de Souto de El-Rei ou do Alcambar, os de Alcongosta, Fundão, Aldeia de Joanes, Aldeia Nova e Souto da Casa, com escolha do “logo do Fundom”, sem dúvida porque o mais importante dos referenciados na área do reguengo, para centralização das necessárias diligências.
À riqueza agrícola do tempo – pomares, soutos, vinhas, hortas, linhares – sensivelmente caracterizada até aos nossos dias com estes elementos específicos, acresceria a importância industrial do Fundão, testemunhada nos séculos XVI e XVII pela existência de mestres, recebedores e vedores das sisas e dos panos e pelo formigueiro de artífices patenteados em códices e outros documentos de interesse local – tecelões, tintureiros e pisoeiros, tratantes e mercadores, borracheiros, fundidores e imaginários. Além da fábrica real pombalina, no majestoso edifício dos Paços Municipais de hoje, outros teares e fábricas, como as das ruas do Mármore e da Cale, a da Ponte da Carvalha e as de cardagem e fiação do Castelejo, aqui tornaram célebres os bons tecidos de Portugal. D. Luís da Cunha, ministro de D. João V, foi a França e a Inglaterra vestido de pano fabricado no Fundão.
Durante as invasões francesas muitos lugares do concelho foram vítimas da atrocidade das forças napoleónicas. De entre os graves morticínios e depredações de Entre-Estrela-e-Gardunha, avultam os de Alpedrinha (5-VII-1808 e 10-IV-1812) e os do Fundão (22-XI-1810, 26-II a 5-III-1811 e 10-IV-1812). Era o início do primeiro grande colapso do concelho do Fundão. Nas colisões liberais e na revolução da Patuleia, padeceram as terras do actual município os horrores de lutas fratricidas, que se prolongaram em anos de dor, com alternativas de bandos e de domínios. Entre as guerrilhas patuleias ficou célebre a do Fabião da Barroca, que ocupava o concelho do Fundão em Junho de 1846. Em Agosto do mesmo ano, conforme elementos do Arquivo do Governo Civil de Castelo Branco, grande parte dos concelhos do Fundão e limítrofes “estavam em fermentação tumultuosa”. Dizia-se que era “uma espécie de república da Cova da Beira”.
A tradição industrial iniciada com o têxtil, no século XVIII, desapareceu. Hoje, a actividade industrial tem expressão a nível de pequena e média empresa e em ramos como a construção civil, as confecções e a metalomecânica. É notória, em todo o concelho, uma tradicional vocação rural alicerçada na produção de cereais, leguminosas, fruta, azeite e vinho. A pecuária tem também algum peso com a criação de gado ovino, caprino e bovino, este dirigido à produção de leite. Na cidade, é o comércio a actividade económica mais significativa. Continuam-se a manter as tradicionais feiras de S. Marcos, em Abril, e de S. Mateus, em Outubro, para além dos mercados semanais à segunda-feira. Na 2.ª quinzena de Agosto promove-se a FACIF – Feira Agrícola Comercial e Industrial do Fundão. Com a duração de 10 dias, o certame pretende ser uma mostra das potencialidades regionais da generalidade do concelho e, em particular, da região da Cova da Beira.
Entre muitos vultos eminentes na religião, nas letras, nas artes e na política, floresceram no Fundão ou lugares do seu concelho D. Jorge da Costa, o célebre cardeal Alpedrinha, de quem se diz que só não foi papa porque não quis; D. Frei Diogo da Silva, 1.º inquisidor-mor do reino; Frei Afonso da Cruz, geral dos cistercienses de Alcobaça; D. Luís de Brito Homem, bispo de Angola e do Maranhão; José da Cunha Taborda, pintor régio e historiador de arte; Domingos dos Santos Morais Sarmento, calígrafo celebrado pelas suas proezas de falsário; o conselheiro João Franco, estadista dos últimos tempos da monarquia; e os poetas e historiógrafos José Germano da Cunha e Alfredo da Cunha. Mais recentes no tempo são os nomes do político Cunha Leal, do monógrafo José Alves Monteiro e do historiador José Hermano Saraiva.






















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