segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A Idade...


... do que é.
... do porquê.
... do não.
... do se.
... do quando.

Na idade do que é, questionamos a quem de direito o que os nossos sentidos captam mas ainda não interpretam. É a fase da "esponja" de conhecer. Aí usamos a parte mais sensorial de nós.
Eu soube que as placas eléctricas queimavam quando colei uma mão (e a direita) em cima dela. A direita porque sou dextra e colei porque não sabia que doía. Aprendi rápido.
Não sabia que jogar à bola dentro de casa fazia estragos, nem que o vidro partia facilmente e que também cortava. Aprendi rápido! Aprendi a sentir a chuva, a guardar o enjoo de uma longa viagem, das pessoas queridas que nos dão beijinhos e nos chateiam de tantos mimos.
Aprendi a confiar em mãe, pai, irmão. Aprendi a não confiar em que me tentava dar rebuçados.
"Mãe, o que é azul?"; "Pai, o que é a água?"; "Mano, o que é ser grande?"... O que é repetido vezes sem conta, repetindo a ânsia de saber, saber. O que era mistério nessa altura não é mais, depois vamos subindo pelas outras idades e descobrindo verdades boas, verdades más, mentiras convenientes e mentiras incompletas... O que é que eu trouxe desses tempos? Carinho, conforto, tristeza escondida e camuflada.

Na idade do porquê já começamos a usar a água de saber absorvida na "esponja" e a questionar. Porquê de ter mãe, pai e mano? E porquê só um? Porque não tiveram mais?
Porquê é fácil perguntar pois temos quem nos responda, nem que seja com respostas curtas e incisivas para não dar azo a mais questões. Mas é isso que dá piada, perguntas sem fio, perguntas a respostas:
"Mãe, porquê o céu é azul?"
"Porque Jesus assim quis um manto claro sobre nós."
"Porquê?"
"Filhota, porque o Pai Dele decidiu..."
"Porquê o Pai decidiu?"
(pausa com respiração funda seguida de 1º e 2º nome para quem tenha) "Porque sim. Agora come isso."
Mas na idade do porquê temos várias fases e as mesmas estão relacionadas com o nosso evoluir. Enquanto estamos apenas juntos dos pais, irmãos, avós e afins, as questões são muito simples... Pior quando nos deparamos com a convivência com outros questionáveis como nós. "Porquê és mais alta do que eu?"; "Porquê tens um estojo rosa?"; "Porquê gosto do menino mais feio da minha turma?"... Era a este evoluir emotivo que queria chegar.
Surgem as questões difíceis e sobre as quais não queremos resposta, as que mexem dentro de nós.

Na idade do não tudo é péssimo. Este não não é o mesmo que aquele que proferíamos face a um prato de canja. É o não quero sentir, não quero acreditar, não quero saber, não quero perder.
Felizmente a minha idade do não foi curta, hoje digo que não mas o negativo saiu e flui em mim apenas a tentativa de ser positiva. Quando a coisa está a sair do caminho, não virar costas mas arranjar solução de contornar obstáculos, não ter um caminho como intransitável mas apenas mais sinuoso.

Na idade do se é tudo muito florido pois são só suposições e ilusões. Contas de cabeça com os algarismos da vida. E quando começam as equações é que se estragam as unidades... Um é um e daí começamos. É bom sermos dois mas como o vinho, a vida precisa de uma boa pipa e de madeira para amadurecer. E não se misturam logo uvas de castas diferentes, nem unidades com dezenas.
Voltamos a esta idade todos os dias, e aí de quem diga que não. Se eu vou por aqui, estarei bem?
Se errar, posso emendar? Na vida não há emendos, não somos mantas de retalhos, nem porcelana colada. O se é bonito mas é volátil como os pensamentos superficiais...

Na idade do quando traz até nós o saudosismo de outros tempos, do mais recente ao mais antigo. Quando pensamos muito atrás, podemos aprender mas também nos podemos enganar. Com a rotina e quotidiano, há dias em que nem à semana anterior conseguimos regressar mas são os acontecimentos e as pessoas que nos fazem recordar dia após dia. "Quando eu era míuda era traquinas" mas a traquinice não morreu, deu foi lugar a responsabilidade, a postura, a consciência. Não perdemos o que ganhámos em anos de vida e ganhamos a cada dia que vivemos plenos de desejo em continuar a inudar a "esponja" de saber.

Nas idades que vamos vivendo, guardamos sempre o melhor. Com os anos a passarem, seleccionamos o que presta e o que não presta, afinal não há memória RAM melhor que a humana!
Vivendo e aprendendo, hoje mais do que ontem e hoje menos que amanhã.


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